O futuro da medicina, por vezes, soa como um bom roteiro de ficção científica: cirurgias robóticas, arquivos de big data, inteligência artificial. A tecnologia em saúde eleva, a cada dia, o setor a níveis mais eficientes e seguros. Tantas possibilidades, por outro lado, colocam alguns profissionais, e principalmente os pacientes, em um estado de dúvida: entre médicos e tecnologia, como fica o papel humano dentro do setor da saúde?
A constância do futuro da medicina
É natural a dúvida sobre o papel humano, do atendimento humanizado na área da saúde, ao passo que esse segmento se vê cada vez mais tecnológico. É preciso compreender, por outro lado, que um fator não anula o outro – isto é, a tecnologia não deve e não irá substituir o papel do médico.
É possível exercitar este raciocínio olhando para trás. Hoje, não imaginamos, por exemplo, um bom sistema de saúde que não ofereça, por exemplo, radiografia, tomografias, raio x e outros diagnósticos por imagem. Também é difícil imaginar nosso dia a dia sem um celular que conte nossos passos ou que nos informe o quanto de calorias estamos ingerindo no dia sem que ao menos tenhamos o esforço de fazer a conta.
Todas essas tecnologias que hoje fazem parte do nosso cotidiano já foram, cada uma à sua maneira e na sua época, grandes novidades que causaram tantas dúvidas quanto as que hoje nutrimos pelo futuro da medicina. O que vivemos hoje já foi considerado, em algum tempo, futuro – e, ainda assim, toda a tecnologia atual aplicada à saúde é usada como forma de aprimorar diagnósticos, de munir o médico de insumos mais qualificados para uma tomada de decisão mais assertiva e definitiva. Esse papel é insubstituível.
Desta forma, independente de quais tecnologias em saúde vinguem nos próximos anos, a função do médico e dos demais profissionais da saúde seguem firmes. Ainda que suas posturas possam ser influenciadas pelos avanços tecnológicos, a palavra final será sempre de quem tem contato direto com o paciente, a variável da ciência inexata que é a medicina: do médico.
O papel do médico frente aos avanços da tecnologia em saúde
Hoje, já existem diversas formas de se fazer medicina e prestar atendimento a pacientes que envolvam a tecnologia sem que, para isso, o médico seja substituído.
O robô DaVinci, talvez, seja o exemplo mais arrojado disso. Criado em 1999 nos Estados Unidos, o equipamento possibilita a visão em três dimensões do que se passa na mesa de cirurgia. Desta forma, o robô consegue realizar alguns tipos de cirurgias de modo minimamente invasivo, uma vez que possui alta precisão. Ainda assim, o DaVinci não faz nada sozinho. A máquina, que possui três áreas (o rack de imagem, a máquina, que terá contato com o paciente, e o console) é comandada manualmente por um cirurgião. A tecnologia, aqui, apenas empresta ao médico, por meio de uma visão 3D com noção de profundidade, rotações de 360º que garantem melhores resultados e mais qualidade de vida para o paciente. Desta forma, a tecnologia apenas contribui e agrega à medicina, e nunca exclui nenhum agente humano.
Outro exemplo de agregação são os serviços de telemedicina. A própria Qualirede, por exemplo, possui soluções que envolvem essa modalidade, como o TeleNurse e o TeleMed, além de equipes capacitadas a realizarem o telemonitoramento de pacientes crônicos.
Todos esses serviços são oferecidos por profissionais qualificados a, via telefone ou videoconferência, atenderem o paciente e, de acordo com protocolos médicos e científicos, realizarem o diagnóstico e, se necessário, emitirem, também à distância, atestados e prescrições médicas. Vale ressaltar que esse serviço é agregador, e não visa substituir as consultas pessoais. Caso o médico sinta a necessidade de uma avaliação presencial para confirmar seu diagnóstico, a consulta será marcada.
Diversos equipamentos também usam big data e inteligência artificial (IA) para definir tratamentos. É o caso, por exemplo, do Watson for Oncology, desenvolvido pela IBM. Sua base de dados é nutrida com mais de 200 textos médicos, 300 artigos e 15 milhões de conteúdos científicos, além das principais fontes de evidências científicas atualizadas periodicamente. A matemática é fácil: quanto mais a máquina for alimentada, mais ela será capaz de cruzar os dados arquivados com as características e sintomas de pacientes específicos. Assim, ela consegue, por meio da IA, devolver o melhor tratamento disponível de acordo com suas análises. Novamente: o paciente, neste caso de IA e Big Data, não fica “à mercê” de uma máquina. Todos os resultados são direcionados a um médico especialista, que dá a última palavra, aceitando ou não o tratamento sugerido pela IA.
O que pode vir por aí
Apesar de parecerem “futuristas”, todos os exemplos acima já são realidade, ainda que não sejam amplamente difundidos devido seus altos custos. Por outro lado, muito mais ainda pode vir a acrescentar positivamente na medicina e no setor de saúde, sejam soluções novas ou o aprimoramento de soluções já existentes
Nanorobôs
Promessa em vários setores da medicina, os nanorobôs buscam combater doenças com o mínimo de invasão e o máximo de eficiência. Sua funcionalidade é simples: dentro do corpo, essas máquinas microscópicas cortam o suprimento de sangue de células indesejadas – como as cancerígenas, causando a morte das mesmas, sem que sejam afetadas células saudáveis.
Essa tecnologia foi testada pela Universidade Estadual do Arizona em parceria com o Centro Nacional de Nanociência e Tecnologia da China. Os resultados contra o câncer de mama, de pele, ovário e pulmonar foram animadores e podem representar um outro capítulo da história da medicina.
Wearables
Já em uso nos dias de hoje, a tendência é que os wearables, ou dispositivos vestíveis, sejam cada vez mais aprimorados.
Atualmente, já é possível encontrar aplicativos para smartphones que monitoram nossos batimentos cardíacos, calorias queimadas e ingeridas, e até mesmo dispositivos que monitoram o diabetes sem que seja necessário a tradicional picada no dedo.
A expectativa é que, com o avanço das telecomunicações, permitindo a transmissão de dados em maior velocidade, em parceria com redes de big data, cada vez mais os sistemas de saúde recebam informações de seus pacientes de maneira totalmente segura e digital, encurtando a estada das pessoas em hospitais e possibilitando tratamentos mais adequados e assertivos.
Telemedicina
Outra área que pode ganhar muito com o avanço das telecomunicações é a telemedicina – e todas as suas vertentes, como a teleorientação, a teleconsulta e outras.
Com o avanço da pandemia de COVID-19, o ex ministro da saúde Henrique Mandetta autorizou, em caráter excepcional, a prática de telemedicina no Brasil sem a necessidade de um profissional da saúde em cada ponta da comunicação – assim, a comunicação entre médico e paciente ganhou mais uma facilidade. Assim, todas as ações autorizadas por meio da Portaria nº 467, às quais a Qualirede está profundamente alinhada, restringem-se ao período em que perdurar a pandemia.
Em paralelo, a breve chegada da rede 5G no país pode revolucionar essa prática, tornando possível conexões mais estáveis que permitam cirurgiões monitorarem cirurgias à distância sem nenhum tipo de interferência.
Órgãos 3D
As impressoras 3D também prometem revolucionar a medicina, unindo ainda mais tecnologia e saúde. Por meio delas, é possível, a partir de materiais genéticos de um paciente, “construir” órgãos em laboratório. Considerando uma realidade onde a prática seja adotada em larguíssima escala, as impressoras 3D podem ser uma ótima aposta para encurtar significativamente filas de transplantes de órgãos.
Naturalmente, ainda existe um longo caminho pela frente. Foi apenas em abril do ano passado que o primeiro coração foi inteiramente impresso em 3D, com todas as funcionalidades vitais. O evento aconteceu em Tel Aviv, Jerusalém.
Com base nessas tecnologias em saúde, sejam protótipos ou não, podemos imaginar que o futuro da medicina é promissor – seja com robôs cirurgiões ou órgãos feitos em laboratório ou com a normalização da telemedicina como fator essencial para que o sistema de saúde atinja cada vez mais regiões do Brasil com a mesma eficiência de um centro urbano. São por meio de tecnologias como esta que, longe de serem substituídos, médicos e outros profissionais da saúde podem oferecer mais qualidade de vida para mais pessoas.